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Conforto térmico com sombra aos bovinos

POR ROBERTA MARCHIOTI, 24 JAN, 2022
24 JAN

Um ambiente é considerado adequado para o bem-estar e desenvolvimento dos animais quando, dentre outras características, proporcione um conforto térmico - o que significa manter as condições de temperatura ambiente na qual o animal sinta-se confortável. Propiciar sombra, água, ventilação e resfriamento são os principais meios de reduzir os impactos do desconforto térmico nos rebanhos.

            Os bovinos têm a particularidade da fermentação ruminal, fato que produz grande calor interno. A composição da dieta determinará a sua intensidade: alimentos energéticos e de rápida fermentação tendem a produzir mais calor quando comparados com alimentos com taxas de  degradação mais lentas.

            Animais em terminação, em processo de formação da camada de gordura de acabamento, tendem a ter mais dificuldades com a troca de calor, uma vez que a gordura subcutânea funciona como um isolante térmico, dificultando a troca de calor interna do animal com o meio externo.

            O cupim é uma característica particular dos zebuínos, adaptados ao clima tropical e que funciona como uma reserva energética desalocada do corpo. Já nos taurinos, o cupim se espalha no dorso do animal de maneira a agir como uma manta isolante e que dificulta a troca de calor interna do animal com o meio externo, fato que propicia um melhor conforto em climas frios.

            Com relação ao pelame, as características que mais se adaptam ao clima tropical são pelos curtos, assentados, com alta densidade, maior diâmetro e de cor clara, o oposto da pele que deve ser pigmentada (escura).

Os principais efeitos causados pelo desconforto térmico e que influenciam no desempenho dos animais, são diminuição no consumo de concentrados e consequentemente de matéria seca, caminhadas mais longas para maior ingestão de água e estresse. Em ambientes confortáveis, bovinos adultos consomem cerca de 4 litros por dia de água a menos que em ambientes sob estresse térmico.

            A sombra natural é mais eficiente, a árvore além de bloquear a radiação solar, ainda proporciona um microclima abaixo da copa, promovendo uma sensação térmica mais agradável. Servindo também como melhoria do solo, por meio da diminuição da erosão, aumento de fertilidade e ciclagem de nutrientes com a queda de folhas e galhos no solo. Entretanto, as maiores dificuldades no manejo equilibrado entre o bovino, a forrageira e as árvores, estão normalmente atrelado ao estabelecimento de espaçamentos e arranjos das árvores inadequados ao desenvolvimento das espécies forrageiras.

            De maneira geral, árvores com copas altas não muito densas e com folhas pequenas são mais adequadas para melhor desenvolvimento das forragens, pois permitem que o sol chegue nas forragens embaixo da copa da árvore de maneira satisfatória.

            Nos sistemas de integração pecuária e floresta (iPF) a classificação ocorre de acordo com o tipo de arranjo e finalidade. Os mais comuns são árvores dispersas na pastagem, árvores com espaçamentos regulares, bosquetes na pastagem, árvores em faixas nas pastagens (renques), plantio florestal madeireiro ou frutíferas consorciado com animais, cerca viva, banco forrageiro e quebra vento.

            Em confinamentos, o sombreamento artificial deve ser planejado a evitar disputa pela sombra, o ideal seria pelo menos 1,5 m² de sombra/ animal, levando em consideração um animal de 480 kg de peso vivo. O sentido e posicionamento da cobertura são importantíssimos e devem seguir a orientação Norte-Sul, fazendo com que a projeção da sombra se movimente embaixo da baia e permita o sol adentrar e secar a superfície debaixo da cobertura de sombreamento, para isto devem estar instalados em altura e largura adequada para que ocorra naturalmente. Coberturas próximas dos bebedouros e cochos dificultam o acesso e aumentam disputa pelos alimentos. Estudos evidenciam ganhos adicionais de 100 gramas/dia e 7 kg a mais no peso das carcaças para animais confinados com sombra em comparação a lotes a céu aberto.

 

Vinicius Elias Saraceni

Zootecnista – Camda